Primeiras conclusões após um mês morando na praia

Passados meus primeiros trinta dias na Austrália, que mais parecem uma vida toda, já não me sinto mais uma completa turista alucinada. Fato que, para quem me conhece, faz eu me sentir muito melhor. Já tenho coisas para reclamar da minha casa, quero jogar minha bike no lixo algumas vezes (principalmente quando chove e faz muito frio) e estou bem cansada de tanto trabalhar.

Apesar da minha ausência aqui no Vai pra Praia, tenho pensado e vivido cada dia mais coisas que quero compartilhar com todos os praieiros, mas a falta de tempo tem me atrapalhado um pouco.

Pra variar, o que me salta aos olhos são sempre as percepções cotidianas. O dia-a-dia de quem mora na praia. Então, não poderia perder a chance de compartilhar aqui algumas delas.

1. O melhor horário para ir pra praia é o horário que você tem

Depois de um mês morando na praia, posso contar nos dedos de uma mão as vezes que pude esquecer da vida e ficar na beira da praia. Começar uma vida nova exige tempo, muitas caminhadas, pedaladas e poucas horas de sono. Estudar, procurar trabalho, trabalhar, fazer compras para a semana, lavar roupa, limpar a casa e cozinhar. Todas essas atividades acabam resumindo seu tempo de beira de praia consideravelmente. Mas esse fato que me deixaria irritadíssima normalmente, agora está sendo super administrado. O mar está ali, bem lindo pra mim, sempre que eu precisar.

blog Vai pra Praia! #aussielife2. Não importa quão chateada você esteja, sempre vai ter alguma prancha para animar o seu dia

Por vezes passo o dia trancada na sala de aula e no trabalho. Não vejo as horas passarem. E aqui, o sol vai embora em torno das cinco da tarde. Obviamente não é fácil estar vivendo em um lugar maravilhoso, com um astral espetacular e não poder desfrutar dele quando e o tempo que você bem entende. É como comprar o ingresso para o show da sua banda favorita e não conseguir entrar porque você se atrasou. Mas, normalmente, quando esses pensamentos aparecem na mente, basta levantar a cabeça e olhar para frente. Muito provavelmente nesse momento, será possível dar de cara com um surfista indo ou voltando do mar, caminhando ao lado de um executivo de terno voltando do trabalho. Ou você pode olhar para o lado no corredor do supermercado e se deparar com uma cabeleira loira coberta por um boné, que estará tão atrasada quanto você. E aí, chega aquele momento de respirar fundo, abrir um sorriso e pensar “tudo vai ficar bem, pois eu estou no lugar certo”.

blog Vai pra Praia!3. Seus amigos são a sua família

Eu tive a sorte de não embarcar nesse sonho chamado Austrália sozinha. Comigo estão amigas muito especiais, que toparam de coração aberto, viver essa experiência linda, mas nada fácil comigo. A convivência diária em uma vida nova não é fácil e você se sente em um reality show. Por muitas vezes surgem desavenças por causa de um sabonete, na hora de escolher o cereal do café da manhã e o lugar para montar o acampamento na praia. Mas, por mais difícil que seja, depois de um dia corrido de trabalho, em meio a muitos desconhecidos que mandam em você, não falam a sua língua e nem se interessam em saber como você está, tudo o que eu mais quero é chegar em casa, encontrar todas de pijamas coloridos, tomando vinho sentadas no chão, muitas vezes aborrecidas, dar um beijo e um abraço e ouvir a simples pergunta que salva a minha vida: “oi amiga, como foi seu dia?”. Nessas horas percebo o quanto realmente nos tornamos uma família. Somos todas diferentes umas das outras, nos desentendemos muitas vezes mas, para o que mais importa, sempre estaremos disponíveis para cuidarmos umas das outras. E isso não há dólar que pague em lugar nenhum do mundo.

blog Vai pra Praia!4. Gerentes são sempre gerentes

Há mais de dez anos no mercado de trabalho convivendo com gerentes de todas as espécies, cruzei o mundo e me dei conta de que o país mudou mas os gerentes continuam os mesmos. Não importa o ramo de trabalho e nem a personalidade da pessoa. Gerentes serão sempre as pessoas que gritam com todo mundo, deixam o ambiente de trabalho tenso e só atrapalham quando você mais precisa de ajuda. Me perdoem todos os gerentes que me leem nesse momento, mas eu, nesses meus quase 30 anos de vida, só conheci um gerente até hoje que realmente cumpre a sua função de orientar sua equipe, resolver problemas e dar liberdade para você trabalhar corretamente. Tudo isso, de preferência, SEM GRITAR!

5. Brasileiros são originalmente atrasados

E que fique bem claro que eu me incluo nessa estatística por completo. Desde de que cheguei na Austrália escuto essa piada. “Brazilian? Humm…Late…”. No começo achei a acusação injusta. Mas agora, depois desse tempo aqui e, analisando a minha vida no Brasil, sou obrigada a concordar que o mundo tem razão. Os brasileiros são/estão sempre atrasados! No meu caso, acho que o problema é porque eu sempre acho que vou ter tempo para tudo. Pata acordar cedo e treinar, tomar café, ir para a aula, almoçar, pegar sol na praia, fazer compras no super, voltar para casa, tomar banho, ir para o trabalho e encontrar as amigas para uma cerveja depois. E estou quase tendo que admitir que fazer tudo isso no mesmo dia é impossível. Vivo no limite do tempo. Chego cinco minutos atrasada na aula, saio correndo para o trabalho, fico sempre cinco minutos a mais na praia e mais dez conversando na cozinha com meus house mates. Ou seja, vivo sempre no limite do meu tempo. E ainda fico braba quando me falta tempo para fazer algo.  Talvez por que, em toda a minha vida, nunca quis perder nada e sempre quis participar de tudo. E isso cansa. E como! E me atrasa também.

blog Vai pra Praia!

Fico por aqui, pois o trabalho me espera e todo o resto da Austrália também.

Saudades praieiros!

 

 

 

 

2 pensamentos sobre “Primeiras conclusões após um mês morando na praia

  1. É isso aí, Bá! Vida que segue. Força na peruca! Quando bater um sufoco, lembra que o mar tá ali, os surfistas e as meninas também. E a gente aqui, com o lema de sempre: Vamôôôô timeee!!!

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